21 março, 2006

A forma e conteúdo

'' O movimento dialético entre a forma e conteúdo, a que o espaço, soma dos dois, preside, é, igualmente, o movimento dialético do todo social, apreendido na e através da realidade geográfica. Cada localização é, pois, um momento do imenso movimento do mundo, apreendido em um ponto geográfico, um lugar. Por isso mesmo, cada lugar está sempre mudando de significação, graças ao movimento social: a cada instante as frações da sociedade que lhe cabem não são as mesmas.'' (Santos - Espaço e Método).
É por isso que mesmo com as imposições das forças hegemônicas sobre o lugar, tanto a nível econômico, como social, as mudanças estão neste subespaço, pois é neste compartimento, dentro a hierarquização em escala mundial, onde ocorre as solidariedades dos lugares e das pessoas, é que devemos atuar de forma enérgica para quebramos, ou pelo menos ''causarmos'', nesta grande ''engrenagem'', a ditadura dos mercados.
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05 março, 2006

Esta não proporciona uma estética corporal


JORNADA DA MACONHA

A mobilização mundial não teve a força participativa de outros tempos. Qual seria a razão?

Por Walter Fanganiello Maierovitch

Há cinco anos, e em diferentes cidades espalhadas pelo planeta, são realizadas, no mês de maio, manifestações para chamar a atenção sobre as políticas, internacionais, nacionais ou municipais, a envolver a erva canábica. O objetivo inicial desses encontros mundiais consistia em pressionar as autoridades para a liberação do consumo da maconha para finalidade lúdica, recreativa, de modo a mudar o estabelecido nas convenções das Nações Unidas e nas leis ordinárias nacionais. Neste mês de maio, nos dias 7 e 8, a denominada Jornada Mundial da Cannabis envolveu cerca de 200 cidades, quando se esperavam manifestações em 400. A Jornada, portanto, não teve a força participativa de outros tempos e deu pouca mídia. Por exemplo, em São Paulo, na Câmara Municipal, estavam presentes pouco mais de 50 pessoas. O comitê organizador internacional da Jornada deixou em aberto as pautas, mas insistiu, com acerto, em três pontos básicos: acesso imediato à maconha para finalidade terapêutica, fim da perseguição policial ao usuário da erva e permissão para cultivo em residências. Qual teria sido o motivo do arrefecimento do movimento, nessa sua quinta edição anual? A resposta não é difícil. Muitos países, exceção aos EUA e à França no Primeiro Mundo, evoluíram racionalmente. Por outro lado, os adeptos do alarmismo e da satanização, como os governos brasileiros desde a ditadura militar, ficaram para trás e as suas posições só convencem os fundamentalistas da War on Drugs. Empolgam aqueles que continuam a acreditar ser possível uma sociedade sem drogas e pregam cadeia ao usuário: France sans drogue, do ministro da Justiça, Dominique Perben. Apesar do esforço em contrário do presidente George W. Bush e do seu czar antidrogas John Walthers, o uso terapêutico da maconha é permitido em 11 estados norte-americanos: Alasca, Colorado, Havaí, Maine, Montana, Nevada, Oregon, Vermont, Arizona, Califórnia e Washington. Em 2004, o governo da Holanda autorizou a venda da erva em farmácias, para infusões e sob prescrição médica. O governo do Canadá cultiva e fornece marijuana a pacientes, com princípio ativo baixo. Experimentalmente, neste ano de 2005, dez farmácias e três hospitais de Barcelona, na Espanha, foram autorizados a vender drágeas de maconha, a critério médico. Na embalagem consta a recomendação para a maconha não ser fumada, pois os riscos de câncer de pulmão e garganta são semelhantes aos do cigarro de tabaco. O Parlamento de Berlim, no mês de abril, aprovou lei a permitir a posse e a compra de até dez gramas de maconha. E a Holanda legalizou, desde 28 de novembro de 1968, a venda de até meio quilo de maconha, para consumo interno nos cafés. A meta foi afastar o usuário do traficante. Há um ano, a Inglaterra rebaixou a maconha para a tabela “C”, reservada às chamadas drogas leves. A iniciativa foi da própria associação britânica de policiais, que percebeu a tendência dos agentes de perseguir usuários de marijuana e deixar em paz os traficantes. A Holanda discute o fornecimento governamental de maconha para emprego médico-terapêutico. Enquanto isso, em cada residência, é autorizado o plantio e cultivo de até cinco pés de maconha. O Brasil continua a criminalizar a posse de drogas para uso próprio. E o último presidente da Câmara dos Deputados entendeu, numa visão curta, representar avanço a aprovação de um projeto legislativo, já remetido ao Senado, que não mais impõe pena de prisão, embora continue a criminalizar. Aquele que for condenado por porte de droga para uso próprio e acabar sancionado com a pena de tratamento obrigatório, poderá, ridiculamente, ser processado por crime de desobediência e ir para a cadeia caso abandone a terapia. Como anualmente ocorre, a reação da Casa Branca à Jornada Mundial da Cannabis parte para a demonização. O czar de Bush diz que o uso de maconha não é tão inocente: pode levar à esquizofrenia. Fora isso, Bush e Walthers apostam todas as fichas em uma decisão da Suprema Corte, marcada para o mês de junho, sobre o caso Angel Raich. Angel tem um tumor no cérebro. Segundo relatou, chegou a usar uma centena de medicamentos antes de recorrer à marijuana, utilizada na forma de cigarro. Angel sustenta, com apoio do médico, tratar-se da única terapia a terminar com as terríveis dores de cabeça. Mais ainda: ressaltou que em seu estado a lei admite o uso terapêutico. A polícia federal norte-americana (FBI) invadiu a casa de Angel, realizou a sua prisão em flagrante e apreendeu a maconha encontrada. Para isso, baseou-se na lei federal e não deu a mínima para a estadual. Para Bush, a lei estadual não pode modificar a proibição contida na federal. Daí ter recorrido à Corte Suprema, cujo julgamento, no caso Angel, está marcado para junho.
Carta Capital 18/05/2005

Tudo pela beleza e nada pela piração...





O Brasil é líder mundial no consumo de remédios para emagrecer. O International Narcotic Control Board (Incb), conhecido na América Latina por Junta Internacional de Fiscalização a Entorpecentes (Jife), acaba de divulgar o seu relatório anual. O texto chama de situação de emergência planetária, a exigir empenho repressivo e vigilância especial dos estados membros das Nações Unidas, o tráfico por via postal, que rende bilhões de dólares para a criminalidade. Também critica as farmácias on-line, especializadas na contrafação de produtos, feitos em fundo de quintal, e a oferta de drogas hormonais (GHB), tudo a causar graves problemas à saúde dos consumidores desavisados. Pela primeira vez, o relatório toca na chamada maconha geneticamente modificada. O princípio ativo (THC), em face de constatações químicas toxicológicas, subiu de 2% a 5% para 19%. Na Holanda, encontrou-se erva canábica com 24%. O Marrocos e a Albânia já estariam produzindo a maconha transgênica. Faltou o Paraguai, com Capitán Bado, na fronteira com o Mato Grosso do Sul. Com relação ao Brasil, a “novidade” diz respeito ao elevado consumo de drogas inibidoras do apetite, que, como se sabe, não são compradas apenas pelos interessados na redução de peso, mas vendidas, também, como anfetaminas nas discotecas, com o álcool a potencializar os efeitos. Interessante observar que a Jife, criada por força da Convenção de Nova York de 1966, trabalha com dados fornecidos oficialmente pelos estados membros da ONU. Em outras palavras, o próprio governo brasileiro enviou os dados e, com surpresa estampada nas primeiras páginas dos jornais, recebe a notícia, inserida no relatório da Jife, de estar entre os maiores consumidores de drogas anorexígenas. O Brasil continua a ser apontado como corredor de passagem da cocaína andina enviada para consumo na Europa e nos EUA. No relatório, acabou poupado da referência de grande centro consumidor de cocaína, fato conhecido por qualquer brasileiro que sai de casa.

Carta Capital 08-03-2006