20 abril, 2016

Meu voto

Pela moralidade
Pela democracia
Pelo João da padaria
Zé da farmácia
Chico da churrascaria.

Pelo meu filho que nasce
Pelos filhos dos meus filhos
Pelos netos dos meus filhos
Bisnetos dos meus filhos.

Pela minha família que não faltarás
Pelo enfermo do satanás
Pelas gerações minhas
e de meus aliados
correligionários.

Pela cadela Laika que foi ao espaço
Pela pisada do americano a lua
Pelo freio do meu carro que funcionou
Pela minha tia que nunca me decepcionou.

Pela árvore que brotara em frente de casa
Pelo policial que me acenara de manhã
Pelo meu cachorro que não cagara na calçada.

Pelo meu marido engaiolado
Pelo servente de pedreiro
Pelo gato que ainda não tossiu seu pêlo
Pelo amor de deus!!!

Pelo Silvio e seus programas dominicais
Pela dança dos famosos
Pelo fim de noite de domingo
Pela manhã que ainda não nasceu.

Pelo trabalho que me deste todo dia
Pela marmita fria, que alegria!!!
Pelo crachá
Pelo salário que vai acabar.

Pelo meus filhos que choram de fome
Pelo seus filhos que acabaram de comer
Pelas pessoas transeuntes nas ruas
Pelo moradores eternos do chão.

Pelo sol que nasce hoje
Pela lua que vem à noite
Pela chuva que nunca chegará.

Pela primavera que ainda revigora
Pelo inverno que esfria agora
Pelo verão esperado por todos
E outono.

Pela areia da praia
Pela água fria do mar
Pelo moleque que acabara de roubar
Pelo meu cordão que já se foi.

Pelo Brasil
Pela Brasília
Pela Campinas
Por São Paulo
E meu bairro.

Pelo povo brasileiro
Cerveja o dia inteiro
Carne boa
Conversa também.

Pelo meu pai que me pôs ao mundo
Pela minha mãe que sangrara por mim
Pelos meus irmãos que roubara as minhas bolachas recheadas na infância
Pela minha vida de criança.

Pela minha velhice que não vem
A juventude já era também
A minha infância que saudades
Das pedras nas janelas
Encapetados.

Pelo ônibus que não passou
Pela fila do SUS
Pela escola que não ensina
Pela televisão assassina.

Pelo moribundo que espera a morte
Pelo ganhador da loteria
Que sorte.

E por todos aqueles que acreditaram em mim
Meu voto é ....não...

17 abril, 2016

A mortadela e a coxinha

Todos dias de manhã
Meu pai ia a padaria
Comprar pães quentinhos
Branquinhos ou cascudinhos
Acompanhados de finas fatias de mortadela.

Insumo popular
Está em todas as mesas
Sempre fez me lembrar da vida simples
Mas cheia de alegrias.

Junto com o pão, a mortadela
Faz o boia fria acordar cedo
O professor ir a escola
O motorista conduzir o ônibus
O padre orar
Está na mesa de quase todos os trabalhadores.

Que saudades daquelas fatias de mortadelas finas
Junto com a manteiga, dá um sabor inquestionável
Mortadelas com pimenta
Um alimento que sacia, alimenta.

Peço a todos para que nunca acabe este enchimento
Embutido de carne de porco, gordura, que delícia
Com pãozinho francês e café
Logo de manhã me leva ao esquecimento.

Um dia no bar vi uma suposta coxinha me olhar
Travestida de sua popularidade
Fez me a lhe degustar.

Passados alguns minutos
A azia vem
Dentro da bela coxinha linda e popular
Um recheio estranho
Parece caviar.

Mas era carne estragada
Coxinha desgrenhada
Queria me enganar
Na calada da noite
Uma puta vontade de cagar.

E foi até as tripas
Atacou meu coração
Coxinha mentirosa
Fez me sentir atração.

Pela exuberância de seu formato
Protuberância irresistível
Odor singelo
Olha atraente.

Coxinha mentirosa
Dentro de você
Tinha uma pedrinha
Que quebrou meu dente.

Que saudades da mortadela
Fina, macia e popular
Nunca mais quero coxinha
Vai ser mortadela
No café da manhã, almoço e jantar...

16 abril, 2016

Partida de futebol

Numa certa final;
Uma decisão;
Torcedores contras e a favor;
O estádio chama-se Demokratia.

Clima de tensão
Bombas
Manipulações
Palavras de ordem
E a televisão mostra somente um lado do campo.

Os times foram compostos pelas suas historicidades
De um lado descamisados, famintos, famigerados
De outro bem postados, bonitos, representados.

A bola rola
O atacante Zé pretinho toca
O meia Barrigudinho chuta
Bola na trave
Quase!!!!!

Por outro lado Coroné toca a bola de lado
Senhorzinho chuta
Para fora!!!

Fora do campo os torcedores se digladeam
Palavrões, chutes, bombas
Bandeirões, buzinas, e muitos xingamentos.

A Zagueira Cléo Fernandão chuta
Zé pretinho dribla um dribla dois e toca
Esfomeado em condição de jogo pega na bola chuta.. é.. golllllll!
O Juiz Mídia apita...
Impedimento!!!

Os jogadores vão para cima do Juiz
Este com a ajuda dos seus correligionários sai de cena
O bola rola novamente...

O zagueiro Sá Ney chuta a bola
Coroné pega e toca para frente
Feijó chuta
E Cléo Fernandão afasta.

Contra-ataque
Zé pretinho sai jogando toca para Esfomeado
Esse com a barriga vazia toca de lado
Barrigudinho com todas a dificuldades
Corre com ombridade
Passa por toda a zaga inimiga
Chuta.. é.. gollll!!!!
O Juiz Mídia dá impedimento novamente.

No sufoco o técnico Chimango
Tira Feijó e põe o glorioso Pê
Esse era habilidoso
Sagaz, esperto
Conhecia todas as brechas da Demokratia.

Mesmo assim Esfomeado sem comer corria
Zé pretinho com a bola nos pés sorria
Cléo Fernandão dava a segurança necessária
E depois de dois impedimentos foram para cima do adversário.

Coroné dá um chutão
Cléo Fernandão está no cangote
A bola quica na frente da área
Pê simula uma falta
O Juiz Mídia acata
Penalidade máxima!!!

O goleiro Conselheiro é expulso
Porque questionou o Juiz
Zé pretinho vai para o gol
Pê olha a bola
Escolhe o canto e chuta...
Gollllllllll!!!!!
Golllll do Pê!!!!!
Golllll Pêeeeeee!!!

10 abril, 2016

Rugosidades


Passaradas




Passaradas
Passos largos
Rápidos
Levam-nos
Deixa-nos
Passos
Laços.

As crianças que andam
Caminham
O futuro.

Variados passos
Variadas formas passadas
O passo nos leva
Para o passado-futuro.

E não nos deixam ficar no presente
A movimentação
Dos corpos
O sorrisos nos pés
As palavras que passam.

Ficam
Voam
Destoam
A visão do estáticos
Que assistem a movimentação do mundo.

Pessoas 
Andam
Animais 
Andam
Pensamentos
Andam
Olhares
Andam.

Passaradas
Passos
Laços
Leves
Lugares 
Comum.

Levam-te
Como o ventos sopram as poeiras
Para o além...

07 abril, 2016

Mnemosine



A história de um lugar quase esquecido.... 

Memória
História
Esquecimento.

Descaso
Acaso
Pertencimento.

Vilões...
Poetas...
Músico...
Compositor.

Morfo
Descascado
Ardor.

Os objetos falam
As pessoas não veem
Almas moram
Provindas do além.

O gramofone que não toca
O seu coração
Perplexidade
Emoção.

Rotação
Disco riscado
O som transigente
Homens calados.

Perto de tudo
Longe de todos
Museu
A ninfa fugidia
Daqueles petulantes.

Enxerguem a minha presença
Que não mais
Amolarei...


Miradas na Escola




A angústia encontra a felicidade
Efêmera perpétua
Abandonados
Abençoados.

Calamidade
Cumplicidade
Sorrisos
Revoltas
No âmago.

Muitos mal nascidos
Esquecidos
Esperançosos
Virtuosos.

Estado
Esquece
Lembra
Depois.

Voto
Aberto
Fica
Pois.

Crianças
Crianças
Brincadeiras
Malícias
Desnecessárias
Vivências.

Aprendizado
Na marra
Amarra
Aprende.

Conflitos
Tortuosos
Sem partido
Nenhum.

O sinal toca
E todos
Vão embora
Destinos...